12/05/2013

Desejo natalino


Tinha sido o melhor presente de Natal que Lorenzo ganhara até hoje: uma espingarda de chumbo. Seu tio e também padrinho chegou à fazenda uns dias antes da comemoração e acabou por entregar, entusiasmado, o presente destinado a ele. Assim poderiam treinar juntos, assim o padrinho teria tempo para ensina-lo a armar a espingarda e a mirar.
A mãe de Lorenzo ficou contrariada com o presente: o menino tinha apenas 12 anos e uma arma poderia ferir alguém. Mas o entusiasmo de filho era tanto, o tio garantiu que não tinha riscos, o pai gostou de ver seu filho com brinquedo de homem, a avó sorriu condescendente... E ali era uma fazenda, o local ideal para esse tipo de atividade. O acordo foi que eles somente atirariam em latas de cerveja.
A noite foi longa demais para Lorenzo, a rotação da Terra não se completava. O rebuliço dos pássaros na alvorada instalou na cabeça do menino a vontade de usar sua nova espingarda para caçar passarinhos. Como seu tio na infância dele. Ele só pensava em como seria bom caça, mas antes ele teria que aprender a atirar.
Nos dias que precederam a data festiva o treino foi pura diversão. Lorenzo demonstrou ter facilidade natural para o esporte. A latinha caía perfurada e era colocada a uma distância cada vez maior. Enfim começaram a arremessar a embalagem para o alto e então a dificuldade era redobrada: acertar o alvo móvel.
No dia de Natal Lorenzo levantou cedo e saiu sozinho com sua espingarda. Sentou-se debaixo da mangueira carregada de frutas e enfiou o chumbinho no cano. Engatilhou a arma e atirou numa manga verde. Acertou. Engatilhou novamente a arma e mirou um bem-te-vi. Errou. Errou por 3 vezes. Aguardou a calmaria. Na quarta vez acertou. Em júbilo correu e pegou o passarinho nas mãos. O corpo quente, o pescoço frouxo. O tiro tinha perfurado o olho da ave.
Lorenzo se sentou. E enquanto cavava a terra com as mãos para enterrar o bichinho, lágrimas incompreensíveis insistiam em escorrer pelo seu rosto.


      Elaize de mello

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