12/05/2013

O filho do pastor




"Pai, conta de novo aquela história bonita?", pediu o menino Josué, insistente.
"Qual história, filho?", devolveu a pergunta o pai, Saul. Era um hábito repetir histórias incontáveis vezes durante as viagens que a família fazia todos os anos a Jerusalém.
"Aquela, pai, dos anjos que o vovô viu cantar no céu"!
"Ah! Sim, sim... teu avô...
O vovô era pastor na região de Belém, há muitos anos atrás, filho, no ano do Imperador Cesar Augusto. Nossa família tinha poucas ovelhas e um belo cão pastor, que nunca saíra do lado dele.
Quando o sol começava a se pôr no horizonte, lá ia ele para as montanhas com o pequeno rebanho e cachorro eufórico. Ele se sentava em alguma pedra, brincando com o cão, enquanto as ovelhinhas andavam de um lado para o outro. Logo se juntavam a ele outros rebanhos da vizinhança, e os pastores se distraíam num longo bate papo até à madrugada.
Eu tinha quase a tua idade, filho, e me lembro como se fosse hoje quando ele chegou em casa nos chamando para ir ver o bebê que chorava na manjedoura. A tua avó ficou espantada, não acreditou na história e disse não queria que saíssemos à noite, mas papai insistiu e contou que ouvira os anjos cantarem 'glória'. Ele tremia e disse ter visto o céu aberto, e uma música celestial... quando um dos anjos disse: 'não temas! eis que vos anuncio uma grande notícia! Hoje vos nasceu o Salvador'!
Depois de ouvir isso, filho, mamãe olhou para o céu, fez uma oração de agradecimento, e nos levou a todos correndo atrás do papai, rumo ao lugar onde os anjos mostraram. E lá estava o bebezinho, envolvido em faixas, no colo de sua mãe. Sua mãe era uma mulher linda, de sorriso iluminado, mas tinha o rosto cansado de uma longa viagem. Ela olhou fundo nos meus olhos, e eu nunca esqueci aquele olhar, filho!
Nós ficamos lá algumas horas contemplando aquela cena magnífica. Muitos outros pastores vieram; também três reis lá do Oriente, trouxeram presentes lindos. Só voltamos para casa depois que amanheceu".
Enquanto Saul contava, outros meninos da caravana se aproximaram para ouvi-lo. Estavam próximos da cidade, quase chegando na hospedaria. Então Josué, que não se continha, interrompeu a história:
"Pai, conta logo, aquele bebezinho era o homem que morreu aqui, no ano passado, não era"?
"Era, sim, filho", respondeu Saul, "era o homem que morreu e ressuscitou! E isto vai ser lembrado e celebrado por todos os homens de boa vontade, todos os anos. E os pais hão de contar para os seus filhos, como faço com você e teus irmãos. E agora vamos. Vamos desfazer a nossa bagagem, pois temos que subir à Jerusalém".

      
             Rita Célia Rodrigues

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