Era véspera de Natal.
Naquele quarto de hospital, minha melhor amiga, Letícia, internada desde sete de dezembro. Conhecíamo-nos desde os seis anos, agora, já quase vinte de amizade inteira. Colegas de colégio, vizinhas, cursávamos Inglês, Francês, Piano, sempre juntas. Na Natação, mesmo clube, e em bailes, matinês, Carnaval lá estávamos nós duas. Só nos separávamos nas férias; destinos diferentes.
Pelo casamento, afastamo-nos muitos quilômetros,porém só fisicamente. Ambas passamos a residir, com esposo, fora de nossa cidade: Rio.
Nesse momento longínquo , Letícia ,em Juiz de Fora. Eu, residindo em Ilhéus, viera, com o marido, passar as Festas, com meus pais, no Rio. Sabendo, pela mamãe, de sua piora, e que seria submetida à nova cirurgia, mudei planos e fui ter com ela. Haveria amanhã?!
No canto do quarto, pequenina árvore de Natal contrastava com o ambiente sombrio.
Tão logo vi, sabia que a ideia era dela...
Fiquei hospedada em sua casa, bem como seus pais, que, ali, estavam pela confraternização da data.
D. Avani me contou que a filha pedira que se preparasse a Ceia, não completa, pela impossibilidade do local, mas com castanhas, salpicão, peru fatiado, frutas, panetone e Esperança. Apesar dela nada poder saborear...
Presentes foram colocados ao pé da Árvore, que, sussurrava: É Natal !
Comemos, deliciamo-nos ( precisávamos " fazer de conta" ! ).
Bem próximo da meia noite, entram no aposento, agora apertado, as freiras do andar, carregando lindo bolo confeitado.
D. Avani arregalou os olhos, misto de espanto e surpresa, e explicou às freiras que era melhor levarem de volta, pois a filha estava em dieta zero.
Fui para perto da Le, e acariciava a mão, como se, com aquele gesto, a pudesse ligar à vida saudável.
Todos se entrolharam. Fez-se silêncio...
De repente, Letícia, em seu jeito manso de ser, colocou:
- Nada disso, mãe, eu não posso comer, agora, mas vocês podem...sejam bem-vindas, Irmãs, e, caso possam, celebrem conosco !
- Vamos ficar, celebrar pelo Amor e pela Vida. Vamos, todos, orar por você.
Amém! Ouviu-se em uníssono.
O Natal inesquecível de nossas vidas foi aquele, quando aprendemos tanto com Letícia.
Minha amiga foi transferida para o CTI, do Rio. Foi operada outras vezes. Somente em Março do novo ano, deixou o hospital.
Continua alegre, otimista.
E a cada Natal, eu me recordo daquele...e dou graças ao Pai por continuarmos tão amigas !
Eny Sandoval P Lichtcajer
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