Sempre idealizara o Natal como um encontro de pessoas que realmente nutriam carinho umas pelas outras. Onde histórias familiares seriam contadas, celebrando saudade dos entes queridos que partiram. Meia-noite, uma oração seria feita, sinceros abraços distribuídos e o sagrado ritual da ceia natalina teria início. Comeria respeitosamente a “carne de Cristo” representada no alimento saboroso ali presente. Sorveria o “sangue de Cristo” no vinho à mesa, amaria cada momento, agradecendo por toda paz e alegria do Natal.
Começou acendendo um incenso, colocou um cd com músicas que a emocionavam ao ouvi-las. Com o intenso calor, abriu janelas, portas, tomou banho de água fresca lavando com carinho os cabelos, todo corpo e alma...
Abriu um vinho, brindou com a garrafa e vestiu-se confortavelmente com uma bata branca. Calçou chinelo, soltou os cabelos cacheados que acariciam seus ombros. Sua pele exalava um delicioso aroma do óleo que passara ao tomar banho. Sentia-se tão bem em sua solidão, prontíssima para sua noite!
Seus movimentos em câmera lenta incitavam sua mente a refletir sobre o decorrer do ano. Geralmente fazia isso às vésperas do Ano Novo, mas como já citei no início, esse ano seu Natal seria diferente. Deixaria para confraternizar e se divertir na chegada do ano novo.
Seu coração pedia quietude, chorar de saudade, arrependimento e satisfações. Queria mais do que tudo um encontro com o menino Jesus em oração. Conversar, pedir perdão pelos erros cometidos, pelas boas ações deixadas de realizar. Agradecer pela primorosa vida e por ter sabedoria em valorizá-la. Queria ser abençoada na saúde e nas pessoas que amava.
Que o presente viesse do céu estrelado, da lua reluzente. Não precisava de companhias, ruídos, risadas e comilança, apenas da magia da serenidade...
Ainda beliscou algo, tomando vinho e aguardou ritualmente meia-noite, onde lá fora rojões e fogos de artifícios explodiam no infinito céu azul. De joelhos, buscou o Pai em oração e o encontrou. Conversou longamente entre lágrimas com ele.
Ergue-se, escovou os dentes, desligou o som, lavou a taça e o prato. Em paz e satisfeita dormiu àquela noite.
Adriana Barbosa Raymundo
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